A data de 24 de novembro de 2021 ficará marcada na história do Vale do Rio Tijucas, principalmente para os municípios de Tijucas e Canelinha. Rozalba Maria Grime foi julgada e condenada pelos crimes cometidos no dia 28 de agosto de 2020 contra Flávia Godinho Mafra e sua bebê.
O CASO
Rozalba sustentava uma mentira, de que estava grávida do primeiro filho. No entanto, havia perdido a criança meses antes, mas não contou a ninguém: nem ao marido, nem à família ou às amigas. Para sustentar a mentira, ela precisava de uma criança, e fingir um parto que nunca aconteceu. Por isso, a ideia foi de matar uma mulher, que simularia o mesmo tempo de gestação e sexo, roubar o bebê e criá-lo como se fosse seu.
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Rozalba se aproximou de Flávia, trocou ideias sobre a gestação da vítima, chegou a presenteá-la e disse que lhe daria um chá de bebê surpresa. Entretanto, levou a vítima até uma cerâmica abandonada. Deu golpes com tijolo que fez a vítima desmaiar e então, com um canivete, retirou a criança do ventre.
Depois, o laudo do IML (Instituto Médico Legal) atestou que a vítima morreu devido à perda de sangue em excesso, durante o parto forçado. A bebê, arrancada da mãe de forma brutal, também foi ferida no processo.
Carregando a criança, Rozalba foi até o hospital da cidade, onde alegou que passou por um parto emergencial na beira da estrada, com a ajuda de um bombeiro, e que ele, no processo, cortou a criança.
Os médicos estranharam a história pois Rozalba não apresentava características físicas de uma mulher imediatamente após dar a luz. Foi quando a Polícia Militar foi chamada. Ela e o marido foram presos em flagrante no dia seguinte ao crime, acusados de homicídio e sequestro de incapaz.
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Já na Delegacia de Polícia Civil de Tijucas, Rozalba Maria Grime confessou o crime. Presa, ela foi encaminhada ao Presídio Feminino de Chapecó, no Oeste Catarinense. Mais tarde, ela foi transferida para o Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí. Ameaçada, ela foi transferida novamente, desta vez para a Grande Florianópolis, onde permanece.
JULGAMENTO
O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) apresentou uma denúncia contra Rozalba, depois que as investigações foram concluídas. Ela foi acusada de ter praticado feminicídio, tentativa de homicídio, ocultação de cadáver, parto suposto, subtração de incapaz e fraude processual.
O júri popular aconteceu na data de ontem (24), na Câmara Municipal de Vereadores de Tijucas. Teve início por volta das 8h40 e a sentença começou a ser lida perto da meia noite. O júri contou com sete pessoas, escolhidas aleatoriamente, e que são voluntárias do Poder Judiciário.
Do lado de fora da Câmara, amigos e familiares da vítima vestiam camisetas com o rosto da vítima e seguravam um cartaz com a frase: “Os dias passam lentos, as horas machucam como espinhos, mas temos forças e confiamos na chegada da justiça“.
Testemunhas foram ouvidas, como o investigador da Polícia Civil, médicos plantonistas do Hospital de Canelinha na data do crime e pessoas próximas à vítima, como colega e esposo.
Durante o julgamento, um jurado precisou ser substituído por passar mal e uma testemunha não compareceu atestando suspeita de Covid-19.
Em seu depoimento, Rozalba mostrou tranquilidade e frieza em todos os detalhes. Ela queria ser mãe a todo direito, dizendo: “minhas amigas tudo estavam sendo mãe, eu estava com raiva, queria ser mãe de qualquer jeito”. Alegou que escolheu o local do crime “porque era abandonado” e “queria pegar um tijolo pra matar ela”, disse não lembrar da quantidade de golpes dados na vítima e que o plano era pegar a criança, afirmando que se não tivessem achado o corpo, o plano teria tido êxito.
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Por diversas vezes os ânimos se exaltaram no plenário da Câmara. A principal advogada de defesa, Bruna dos Anjos, por diversas vezes chamou Rozalba de mentirosa, por estar se contradizendo em relação aos primeiros depoimentos dados aos advogados.
O promotor de Justiça, Alexandre Carrinho Muniz, chegou a dizer: “Eu não sei se é teatro da Dra. Bruna, mas temos quase uma ausência de defesa, ou então o que está sendo feito é um teatro”.
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O foco da promotoria era mostrar aos jurados que a ré estava totalmente consciente de seus atos e, por isso, mentalmente apta a pagar pelos crimes na Justiça.
O julgamento, que durou 15 horas, terminou com a leitura da sentença pelo juiz José Adilson Bittencourt Júnior. Rozalba foi condenada a 56 anos e 10 meses de prisão em regime inicial fechado, mais oito meses de detenção. A ré pode recorrer da sentença, mas não em liberdade, pois já cumpre prisão preventiva pelos crimes e os motivos que levaram a essa medida continuam presentes.
Após o julgamento, o promotor de Justiça, Alexandre Carrinho Muniz, comentou a decisão dos jurados, que seguiram o entendimento do Ministério Público e consideraram a ré como plenamente consciente de seus atos e, por isso, mentalmente apta a pagar pelos crimes na Justiça:
“É o resultado de um trabalho que o Ministério Público fez, em conjunto com a Polícia Civil, em que nós conseguimos demonstrar não só a questão da materialidade e da autoria, que me pareceu bastante incontroversa, mas também de identificar – até por parte do IGP que fez um excelente trabalho na confecção do laudo de sanidade mental – que ela tinha plena capacidade entender o caráter ilícito dos fatos e também de ter controle sobre seus atos”, comentou.